Acolher, ensinar, transformar: resistindo à cultura do racismo desde a infância
- Alma Mater Cosméticos

- 25 de set.
- 5 min de leitura
Atualizado: 9 de out.

Cuidar de uma criança negra é um ato de amor profundo. Mas, em um país marcado pela cultura do racismo, esse cuidado também é resistência. Desde cedo, meninos e meninas negros enfrentam olhares enviesados, comentários cruéis e a invisibilidade que tenta diminuir sua potência.
Reconhecer essa realidade não significa roubar a leveza da infância, e sim criar condições para que ela floresça com dignidade. É nesse gesto de acolher, ensinar e transformar que pais e cuidadores se tornam guardiões de futuros. Cada palavra de incentivo, cada cuidado com o cabelo crespo infantil, cada história contada é também um tijolo na construção de resistência à cultura do racismo.
A cultura do racismo: o que significa
O racismo não é apenas um conjunto de atitudes individuais. Ele é uma estrutura social que organiza quem pode viver com dignidade e quem terá seu acesso limitado. A cultura do racismo está na ausência de pessoas negras em espaços de decisão, na diferença salarial, na desproporção da violência, na qualidade desigual das escolas, na falta de saneamento e até nos conteúdos consumidos pelas crianças.
Esse sistema nasceu no período colonial, quando a escravização de africanos sequestrados sustentou a economia brasileira. Mesmo após a abolição, seus efeitos não desapareceram. Eles se renovam em padrões de exclusão que moldam o presente.
Como o racismo estrutural atravessa a infância
Trabalho e renda
Crianças aprendem cedo a posição social que a sociedade reserva para seus pais. Em 2022, pessoas brancas ganharam, em média, 64,2% a mais que pretos e pardos. Em 2024, a taxa de desocupação foi de 5,5% entre brancos contra 8,5% entre pretos e 7,8% entre pardos. A informalidade também pesa mais: 45,8% entre pretos e pardos contra 34,3% entre brancos. Esses números se traduzem em menos recursos para investir em educação, saúde e bem-estar na infância.
Violência
Em 2022, 76,5% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. A letalidade policial recai de forma desproporcional sobre jovens negros. Essa violência não afeta apenas quem é diretamente atingido: ela gera medo, ansiedade e sensação de que a vida negra vale menos. Crianças crescem ouvindo histórias de perda e restrição de liberdade, internalizando a ideia de perigo constante.
Saúde
A cultura do racismo também se manifesta no cuidado à saúde. Em 2022, a mortalidade materna entre mulheres pretas foi mais que o dobro da registrada entre mulheres brancas. Isso reflete desigualdade de acesso, acolhimento e qualidade do atendimento. Para crianças, isso pode significar menos consultas de rotina, vacinas atrasadas e ausência de acompanhamento psicológico.
Saneamento e território
O Censo 2022 mostra que famílias negras têm menos acesso a água encanada, coleta de lixo e rede de esgoto. Esse cenário de racismo ambiental afeta diretamente a infância: maior risco de doenças, menos áreas de lazer, escolas em regiões precarizadas. A geografia do cuidado também é desigual.
Educação
Embora pretos e pardos já sejam maioria nas universidades públicas, a desigualdade ainda persiste no dia a dia escolar. Crianças negras são menos estimuladas, mais responsabilizadas e raramente encontram professores e conteúdos que reflitam sua identidade.
Esses dados não são apenas estatísticas. São marcas que atravessam o cotidiano da infância negra e moldam o que ela aprende sobre si mesma.
A infância negra como guardiã de futuros
Cada criança carrega dentro de si futuros possíveis. Um menino negro que sonha em ser cientista, uma menina que imagina ser astronauta, artista ou médica. Mas a cultura do racismo tenta limitar esse imaginário, reduzindo horizontes.
O cuidado consciente é, então, proteger não só o corpo da criança, mas também seus sonhos. É dizer todos os dias: você pode ser o que quiser. É transformar gestos simples, como desembaraçar o cabelo crespo infantil com carinho, hidratar com produtos naturais, escolher brinquedos e livros com protagonismo negro, em práticas que alimentam autoestima e esperança.
Pais e cuidadores não criam apenas rotinas: criam alicerces emocionais que sustentam futuros.
Redes que sustentam a infância
Nenhuma criança deveria enfrentar a cultura do racismo sozinha. É nas redes que a proteção se torna concreta.
Família: primeira trincheira de amor, onde cada elogio, cada cuidado com os fios crespos e cada reafirmação da beleza negra se transforma em resistência.
Escola: espaço que precisa se comprometer com práticas antirracistas, valorizando culturas e histórias negras nos currículos e nas interações cotidianas.
Comunidade: igrejas, terreiros, associações, coletivos culturais e esportivos oferecem pertencimento e apoio concreto às crianças e famílias.
Ancestralidade: histórias de avós e bisavós, memórias de luta e de superação que ensinam que a identidade negra é uma herança de força.
Tecnologia: hoje, canais de YouTube, perfis digitais e podcasts de criadores negros oferecem referências que antes não existiam, ampliando horizontes de representatividade.
Essas redes formam uma teia de proteção que não apenas acolhe, mas fortalece.

Saúde mental e pertencimento
O racismo não é apenas social: ele é também psicológico. Uma criança que cresce sendo alvo de piadas, exclusões e invisibilidades pode desenvolver ansiedade, depressão ou baixa autoestima.
Pais e cuidadores precisam olhar para a saúde mental como parte essencial dos cuidados com a infância negra. Validar sentimentos, oferecer escuta, procurar apoio psicológico quando necessário. Mostrar, sempre, que chorar não é fraqueza e que sorrir é resistência.
Um chamado aos cuidadores
Este artigo é, acima de tudo, uma carta de amor para você que cuida de uma criança negra.
Quando você acaricia o cabelo crespo do seu filho com paciência, quando oferece uma boneca negra de presente, quando responde a uma ofensa com firmeza, você está escrevendo uma nova história.
Você está ensinando que a cultura do racismo existe, mas não será maior que o afeto, a identidade e a potência que cada criança carrega. Você está dizendo: meu filho não será invisível. Minha filha crescerá sabendo que é digna de todos os espaços.
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Meu Crespinho, meu futuro
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Porque resistir à cultura do racismo também é isso: garantir que cada criança negra cresça ouvindo, sentindo e acreditando que seus sonhos não têm limite.

por Simone Aguiar
Diretora Executiva na Alma Mater Cosméticos
Simone é mãe, avó e farmacêutica, graduada pela UFRGS. Atua no mercado de cosméticos há 40 anos, tendo desenvolvido mais de 100 formulações comerciais ao longo de sua carreira como consultora e colaboradora em grandes empresas como Biolab Farmacêutica, Body Store, The Body Shop/Natura.



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