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Aprender, curar e pertencer: o papel da escola na autoestima da infância negra

  • Foto do escritor: Alma Mater Cosméticos
    Alma Mater Cosméticos
  • 14 de out.
  • 5 min de leitura
Professora negra, ensina sobre o continente africano

Queridos professores, pais e cuidadores,


Quando eu era menina, lembro bem da sensação de abrir um livro e não me ver em nenhuma página. Nenhuma menina de tranças, nenhum menino da minha cor, nenhum herói com o meu rosto. Era como se o mundo que eu vivia, cheio de tambores, de sabedoria e de afeto, tivesse sido esquecido nas histórias que a escola contava. E, por muito tempo, crescemos assim: sem espelhos.


Mas hoje eu sei que o problema não era a ausência de histórias. O problema era o silêncio. Porque a história da população negra sempre existiu, e continua existindo, dentro das famílias, nas comunidades, nas rodas, nas canções. Faltava apenas ser reconhecida, valorizada e ensinada como parte viva da história do Brasil.


A escola como lugar de reconstrução da história

Durante séculos, o ensino sobre os africanos escravizados foi contado de forma incompleta. Nos livros, apareciam correntes, senzalas, castigos. Pouco ou nada se dizia sobre os impérios africanos, sobre as universidades de Timbuktu, sobre as rainhas guerreiras, os escultores, os matemáticos, os filósofos, os astrônomos.


Ensinar essa história de maneira justa é mais do que um dever legal, é uma necessidade emocional. Quando uma criança negra aprende que seus ancestrais não foram apenas escravizados, mas também inventores, artistas e líderes, ela começa a olhar o espelho com outros olhos. Ela entende que a sua cor é parte da grandeza, e não da falta.


E é aí que a escola se torna um espaço de cura. Um lugar onde o que antes foi apagado ganha cor e voz novamente.


A importância de ensinar com amor e com verdade

A Lei 10.639, aprovada em 2003, determina que todas as escolas do Brasil devem ensinar a história e a cultura afro-brasileira e africana, valorizando as contribuições do povo negro na formação do país. Ela nasceu da luta de educadores e movimentos sociais que entenderam algo essencial: não há educação de qualidade sem representatividade.


Mas, mesmo com a lei em vigor há mais de 20 anos, ainda há muito a ser feito. O que muda o mundo não é apenas o texto da lei. É o olhar do professor que escolhe contar as histórias certas, com sensibilidade, respeito e afeto.


Cada vez que um educador apresenta Dandara dos Palmares como heroína, ou fala de Carolina Maria de Jesus como intelectual, ele está reconstruindo o imaginário coletivo. Está dizendo a cada aluno negro: “Você veio de uma história de sabedoria, coragem e beleza.” E quando um professor olha para uma menina de cabelo crespo e diz “seu cabelo é lindo”, está ensinando mais do que estética. Está ensinando amor-próprio.


Representatividade na infância negra: o poder de se ver nos protagonistas

Imagine uma criança negra abrindo um livro de história e encontrando alguém que se parece com ela. Agora imagine essa criança percebendo que essa pessoa é um herói. Essa simples conexão pode mudar seu destino.


Quando uma menina lê sobre Dandara, ela aprende que a força mora nela. Quando um menino conhece Luiz Gama, entende que sua voz pode transformar o mundo. Quando as crianças descobrem Tia Ciata, Abdias do Nascimento, Machado de Assis ou Conceição Evaristo, elas passam a compreender que o Brasil foi moldado também pelas mãos, mentes e sonhos de pessoas negras.


Representatividade é mais do que espelho. É cura! Ela devolve às crianças negras o direito de se ver como protagonistas. E, ao mesmo tempo, ensina às crianças brancas que a diversidade é riqueza, não ameaça.


A escola como espaço de cura e pertencimento

O racismo começa cedo, às vezes disfarçado de brincadeira, às vezes em omissões. Mas ele também pode ser enfrentado cedo, na sala de aula, no recreio, nas paredes da escola. Quando um mural traz rostos negros, quando uma história africana é contada com respeito, quando o cabelo crespo é trançado com orgulho, a escola deixa de ser um lugar de dor e se torna um espaço de acolhimento.


Pesquisas do UNICEF mostram que escolas com práticas de educação antirracista têm melhor desempenho coletivo, menos evasão e mais engajamento das famílias. Isso porque a autoestima é o alicerce de todo aprendizado. Uma criança que se sente vista, aprende melhor. Uma criança que se sente amada, se torna mais livre.

Professora e alunos negros em frente a um mural com heróis e heroínas negras

O papel das famílias e da comunidade

Não é só a escola que educa. A educação começa em casa e se expande na comunidade.


Quando os pais leem livros com protagonistas negros, quando avós ensinam histórias de resistência, quando comunidades celebram festas afro-brasileiras, elas estão reforçando a mesma mensagem que a escola precisa ecoar: você pertence.


Famílias e professores são aliados na construção de uma educação que cura. Uma mãe que ensina o filho a amar o próprio cabelo está fazendo o mesmo trabalho que o professor que coloca um autor negro na lista de leitura. Uma avó que conta histórias africanas antes de dormir está abrindo o mesmo caminho que uma diretora que pinta o mural da escola com heróis negros.


Leia também:


Caminhos para uma educação antirracista e esperançosa na infância negra

A transformação é coletiva e contínua. Ela passa por:

  • Formar professores para compreender o impacto da representatividade no desenvolvimento infantil;


  • Atualizar materiais didáticos, garantindo pluralidade de autores e imagens;


  • Integrar arte e cultura afro-brasileira nas aulas de música, literatura e história;


  • Estimular a empatia, mostrando que todas as crianças ganham quando aprendem juntas sobre diversidade;


  • Valorizar a estética negra: cabelos, traços e cores como expressões de beleza e ancestralidade.


Essas ações criam não apenas uma escola mais justa, mas também uma sociedade mais humana.


Aprender para curar, ensinar para libertar

Quando uma criança negra se vê representada, o mundo se abre. Ela sonha mais alto, fala com mais firmeza, caminha com mais segurança. E isso não é pequeno é revolução.


A escola tem esse poder: o de reconstruir identidades e de plantar amor onde antes havia silêncio. Cada lição dada com empatia, cada história contada com verdade, cada elogio feito com respeito é uma semente.


E, como toda semente bem cuidada, ela floresce.


No cuidado com o cabelo, com as histórias e com o coração, cada gesto conta. A Linha Meu Crespinho Baby foi criada para nutrir, proteger e valorizar a beleza natural das crianças negras, desde o berço até o espelho.



Simone Aguiar - Diretora Executiva na Alma Mater Cosméticos



por Simone Aguiar

Diretora Executiva na Alma Mater Cosméticos




Simone é mãe, avó e farmacêutica, graduada pela UFRGS. Atua no mercado de cosméticos há 40 anos, tendo desenvolvido mais de 100 formulações comerciais ao longo de sua carreira como consultora e colaboradora em grandes empresas como Biolab Farmacêutica, Body Store, The Body Shop/Natura.


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