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Diversidade cultural e a infância negra: tradições que acolhem e fortalecem

  • Foto do escritor: Alma Mater Cosméticos
    Alma Mater Cosméticos
  • 8 de out.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 9 de out.

Infância negra: Avó conta histórias aos netos, três crianças negras, sentados em um lindo tapete listrado.
A diversidade cultural acolhe e fortalece a infância negra. Entre memórias, fé e tradição, descubra como gestos simples constroem pertencimento, autoestima e amor nas novas gerações.

Hoje gostaria de conversar com vocês sobre a importância do Dia das Crianças na infância negra...


Todo ano eu lembro do tempo em que eu mesma era menina. Não havia presentes caros, nem vitrines cheias de brinquedos importados. O que havia eram festas no quintal, cantigas entoadas em roda, doces distribuídos na rua, uma tia que contava histórias, um vizinho que batia o tambor. E, olha, era nesses pequenos gestos que a gente se sentia protegido, amado, parte de um povo inteiro.


Hoje o mundo mudou. A televisão, a internet, as lojas todas chamam para o consumo. Mas há algo que não pode mudar: o sentido de pertencimento da infância negra. É por isso que precisamos, nós, pais, mães, avós, cuidadores, resgatar a força das tradições que acolhem e fortalecem.


Mas quando falo em tradição, não é sobre voltar no tempo, é sobre continuar o que resiste. O quintal de hoje pode ser a sala da casa, o pátio da escola, o espaço coletivo da internet. O que importa é que os laços continuem sendo tecidos. Toda vez que uma criança negra é chamada pelo nome, é ouvida com carinho e é estimulada a se expressar com orgulho, a gente renova esse pertencimento. As tradições mudam de forma, mas a alma, o que realmente nos sustenta, continua a mesma.

 

Memórias que carregam pertencimento

Me lembro, como se fosse hoje, da primeira vez que ouvi uma roda de capoeira. Eu era menina, e aquele som de berimbau me arrepiou. Não era só música: era história viva, era resistência, era corpo em movimento. A capoeira era marginalizada, mas para nós era brincadeira e era arte.


Ali, sem saber, estávamos aprendendo que ser negro era também carregar um poder ancestral. Essas memórias são preciosas porque mostram que a infância negra nunca esteve sozinha. Mesmo quando o racismo tentava apagar, a comunidade inventava jeitos de dizer: “você é importante, você pertence, você tem uma história”.


Também lembro das festas de São Cosme e São Damião, quando vizinhos distribuíam saquinhos de doces para as crianças. Alguns chamavam de tradição católica, outros de culto aos Ibejis, orixás gêmeos da infância. Eu não entendia de religião, mas entendia de partilha. Aquela mistura de fé e de doçura me ensinava a amar a cultura da nossa gente.


Essas lembranças, o tambor, a roda, o doce, são também memória coletiva. Elas nos lembram que o afeto é o primeiro antídoto contra o apagamento. Quando uma avó penteia o cabelo da neta e canta uma cantiga antiga, está transmitindo mais do que tradição: está comunicando pertencimento. A infância negra carrega o dom de guardar essas heranças afetivas e, quando cresce, devolvê-las ao mundo em forma de arte, cuidado e sabedoria.

 

O racismo começa cedo, mas a resistência também

Não é segredo que o racismo atravessa a vida desde cedo. Pesquisas da UNICEF mostram que crianças negras, já na educação infantil, sofrem mais exclusão e menos estímulos do que crianças brancas.


O IBGE também aponta que, em média, famílias negras têm menos acesso a creches de qualidade, a saneamento básico, a espaços de lazer seguros. Até no brincar, a desigualdade aparece: brinquedos com protagonistas negros são minoria nas prateleiras.


Mas também é verdade que a resistência começa cedo. Cada vez que uma mãe faz um penteado afro com orgulho, cada vez que um pai compra uma boneca negra para a filha, cada vez que um professor conta uma história africana na sala de aula, ali se planta uma semente. Pequena, talvez. Mas semente cresce.


E é por isso que precisamos nomear o racismo, mas também celebrar o que o combate. A resistência está no cotidiano, em cada cabelo trançado, em cada criança que aprende a amar seu tom de pele, em cada família que escolhe livros com protagonistas negros. É no gesto simples de dizer “você é linda exatamente por ser do jeito que é” que o racismo perde força. E quando a criança aprende a se reconhecer no espelho com amor, o mundo inteiro ganha um pouco mais de cor e verdade.

 

Educação para o orgulho

Hoje, graças à luta de muitos, vemos mudanças importantes. Desde 2003, a Lei 10.639 obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. É um passo fundamental para que nossas crianças cresçam conhecendo heróis e referências como Zumbi, Dandara, Luiz Gama, Carolina Maria de Jesus. Não apenas princesas europeias, mas rainhas africanas como Nzinga de Angola.


Quando a escola inclui essas referências, a criança negra se vê representada. E quando não inclui, a gente, em casa, precisa trazer. Ler livros de autores negros, cantar músicas de artistas negras, participar de atividades culturais e comunitárias de nossa gente. Porque o que não se aprende na sala de aula, se aprende no colo.


Educação não é só o que vem dos livros. É também o modo como olhamos e falamos com as crianças. Quando uma professora elogia um cabelo crespo, quando um colega aprende a respeitar o tom de pele do outro, a escola se transforma num espaço de cura. É importante lembrar: cada palavra tem poder. Uma palavra que acolhe pode construir uma vida inteira. Uma palavra que fere pode demorar décadas para cicatrizar.



Redes que sustentam a infância

Filho, filha, ninguém cresce sozinho. Por isso é tão importante a comunidade. Igrejas, terreiros, associações, rodas de capoeira, coletivos de mães pretas, grupos culturais, todos eles ajudam a criar uma infância mais protegida. É o vizinho que dá carona, a tia que ajuda no penteado, o padrinho que conta história, a avó que passa o ensinamento.


E não se trata de romantizar. Muitas vezes essas redes nascem da falta de políticas públicas. Mas elas também são prova de que o povo negro sempre soube se reinventar para proteger os seus. E quando a criança sente que há uma rede em torno dela, cresce mais forte.


Essas redes são o verdadeiro escudo da infância negra. Elas formam o que muitos chamam de “parentalidade expandida”, quando o cuidado não vem só dos pais, mas de todo o entorno. É nesse círculo que a criança aprende a confiar, a compartilhar e a resistir. E se o Estado ainda falha, é a comunidade que sustenta. É ela que ensina que o amor não tem fronteiras e que o coletivo é o maior ato de proteção que existe.


Avó conta histórias a seu neto negro que está em seu colo. Ambos riem.
Entre histórias e abraços, ela ensina que amor também é herança.

Pequenos rituais, grandes marcas

E tem mais, gente: a criança guarda na memória os pequenos rituais. O doce dividido na festa, o cabelo trançado com paciência, a cantiga antes de dormir, a oração feita de mãos dadas. Esses momentos parecem simples, mas são eles que constroem autoestima, segurança e orgulho.


E é aqui que o cuidado estético também entra. Cuidar do cabelo crespo não é só questão de higiene: é identidade, é afirmação, é amor, é dedicação. Desembaraçar com paciência, usar produtos feitos para valorizar os fios, deixar o volume aparecer sem vergonha, tudo isso comunica à criança: “você é bonita, você é importante, você é amada”.


Esses rituais, repetidos com carinho, se tornam memória afetiva. E a beleza disso é que não custam nada, só tempo e presença. Um banho demorado num domingo, o cheiro do creme, a risada no espelho, o “olha como ficou lindo!” dito com verdade. Isso é amor em ação. É também uma forma de ensinar à criança que cuidar de si é um direito, não um luxo.

 

Palavra final de avó

Resumindo, o Dia das Crianças pode até ser data comercial, mas nós podemos ressignificá-la. Podemos fazer dele um lembrete de que a infância negra merece ser celebrada com orgulho. Que cada menino e menina crespa saiba que não precisa se esconder, que não precisa se comparar, que já nasceu suficiente!


E se você, pai, mãe, cuidador, se pergunta se está fazendo certo: está sim! O amor que você oferece, os valores que você transmite, o tempo que você dedica são sementes. E sementes, quando regadas com cuidado, sempre florescem.


E é isso que eu, como avó, aprendi com a vida: não é o brinquedo que fica, é o afeto. As crianças esquecem o presente, mas lembram do abraço, da conversa, do cuidado. E se a gente puder dar isso junto com um mundo mais justo e representativo, aí sim teremos feito o melhor presente possível, um futuro em que todas as infâncias, especialmente as negras, possam crescer com dignidade, beleza e pertencimento.


No cuidado diário, lembre-se: cada gesto importa. A Linha Meu Crespinho Baby foi criada para nutrir e valorizar os cabelos crespos desde cedo, ajudando cada criança a crescer com autoestima e orgulho de quem é.


Foto de perfil de Simone Aguiar, mulher negra, diretora executiva na Alma Mater Cosméticos

 



por Simone Aguiar

Diretora Executiva na Alma Mater Cosméticos





Simone é mãe, avó e farmacêutica, graduada pela UFRGS. Atua no mercado de cosméticos há 40 anos, tendo desenvolvido mais de 100 formulações comerciais ao longo de sua carreira como consultora e colaboradora em grandes empresas como Biolab Farmacêutica, Body Store, The Body Shop/Natura.

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